Dia Internacional Contra a Discriminação Racial: da reflexão à ação
No dia 21 de março de 1960, no bairro de Sharpeville, na cidade de Johanesburgo, na África do Sul, a polícia sul-africana abriu fogo contra uma manifestação pacífica contra as leis de apartheid do país, resultando na morte de 69 pessoas e ferindo outras centenas de outras.
O episódio, que escancarou a brutalidade policial à serviço do regime de segregação racial no país, desencadeou uma onda de indignação mundial. Em resposta, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou o dia 21 de março como o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, em memória às vítimas de Sharpeville e como um apelo à ação global contra o racismo e a discriminação racial em todas as suas formas.
Sessenta e quatro anos após o Massacre de Sharpeville, seguimos na urgência de continuar a luta contra a discriminação racial, especialmente na realidade brasileira.
Apesar de marcado por uma diversidade étnica e cultural, o Brasil ainda enfrenta profundas desigualdades raciais que permeiam todas as esferas da sociedade.
As estatísticas revelam disparidades alarmantes: negros e indígenas são desproporcionalmente afetados pela pobreza, pelo desemprego e pela violência policial. As taxas de homicídios entre jovens negros são significativamente mais altas do que entre jovens brancos, e a representação de pessoas negras em posições de liderança e poder continua sendo mínima.
Discriminação racial no ambiente de trabalho
A discriminação racial no ambiente de trabalho é uma realidade persistente que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo no Brasil. Apesar dos avanços em políticas públicas e de inclusão implementadas por algumas empresas, o racismo ainda é uma força significativa que molda as experiências e oportunidades no ambiente de trabalho.
Entre as discriminações, destacam-se, infelizmente, a disparidade na contratação, promoção e remuneração. Ou seja, muitas vezes os candidatos negros e de outras minorias étnicas enfrentam barreiras ainda durante o processo de recrutamento.
Basta olhar para o lado dentro do seu local de trabalho, quantas pessoas não-brancas ocupam este espaço? Os números também escancaram essa realidade. Em 2021, a pesquisa Futuro do Trabalho e Diversidade, realizada pela plataforma de empregos Indeed, em parceria com o Instituto Guetto, apontou que 60% dos profissionais negros já sofreram discriminação racial no ambiente de trabalho, e 10,6% já denunciaram ao setor de Recursos Humanos, mas não obtiveram retorno.
O assessor jurídico do Sindicato dos Bancários de Santa Maria e Região, advogado Márcio Brum, orienta o que deve ser feito caso alguém sofra discriminação racial no ambiente de trabalho:
- Caso a pessoa seja vítima de discriminação racial deve fazer o registro da ocorrência em delegacia de polícia, pois tanto o racismo quanto a injúria racial são ilícitos penais.
- Além disso, deve levar o fato ao conhecimento da chefia ou direção da empresa para esta tome as medidas administrativas cabíveis contra o autor da discriminação, tais como advertência, suspensão disciplinar ou demissão, sob pena de conivência.
- A vítima também pode comunicar o fato ao sindicato e buscar orientação da assessoria jurídica do sindicato sobre as medidas judiciais cabíveis para reparação por danos morais.
“A discriminação racial deve ser combatida em todos os segmentos da sociedade, dentre eles o ambiente de trabalho. É inaceitável que um trabalhador ou trabalhadora seja agredido e inferiorizado pela cor da sua pele. Quem se diz civilizado não pode tolerar esse tipo de ofensa e deve denunciá-la em solidariedade à vítima, numa atitude antirracista”, afirma o advogado.
É sempre bom resgatarmos a fala da ativista e intelectual Angela Davis, afinal, em sociedade não basta não sermos racistas, é essencial combatermos o racismo diariamente, em qualquer ambiente. É diante dessa urgência que a secretária de Comunicação do Seeb – Santa Maria e Região, Julcileia Fraga Bastos Pereira, destaca o posicionamento e papel essencial do sindicato na luta antirracismo:
“Esta é uma importante data que reforça a luta contra o preconceito racial em todo mundo. Infelizmente, ainda hoje o preconceito e discriminação racial é velado. A ação sindical é importante para promover diálogos e reflexões, e projetar as mudanças necessárias para reconsiderar como as instituições continuam ratificando ou naturalizando o racismo. A luta contra a discriminação racial não deve ser limitada apenas a população negra, mas a todos, visando uma sociedade mais justa, igualitária e menos violenta”.
Seguimos juntos e juntas, por um mundo de oportunidades iguais, lutando diariamente contra o racismo e qualquer forma de discriminação!
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Nathália Arantes, Jornalista e Cientista Social
Assessora de imprensa
Sindicato dos Bancários de Santa Maria e Região