Amigos para sempre

Ao que tudo indica o Sarney permanece na presidência do senado e ninguém sofrerá espécie alguma de punição por falta de decoro parlamentar. As ações contra Sarney e Cia foram arquivadas pelo presidente do Conselho de Ética Paulo Duque. Esses últimos acontecimentos políticos são propícios para algumas divagações… e lembranças.
Há exatos 20 anos, um jovem candidato a presidente da República travestiu-se de Caçador de Marajás e percorreu o Brasil pregando a moralidade na política e uma varredura na corrupção.
Naquela oportunidade Collor de Melo chamou Sarney de irresponsável, desastrado, fraco e omisso.
Um ditador de opereta e político de segunda classe. No espaço eleitoral colocou um depoimento da ex-companheira de Lula acerca de um possível aborto. Em um dos debates afirmou que não tinha um aparelho de som igual ao de Lula. Era um modesto candidato. O Caçador de Marajás tinha os olhos incisivos, penetrantes e irascíveis. E, digamos, um temperamento algo explosivo.
Como sabemos, Collor sofreu impeachment e teve dez anos para esfriar a cabeça na sua paradisíaca Alagoas. Mas Elle voltou. Atualmente, como senador, passados vinte anos, parecia um pacato cidadão. Um obscuro e inexpressivo senador a vagar pelos corredores do Congresso sem a empáfia de outrora. Então, ressurgiu das cinzas num bate-boca com Pedro Simon. Os mesmos olhos incisivos, penetrantes e irascíveis. Num jogo de cena e dedo em riste mandou o senador gaúcho engolir e digerir suas palavras.
Como o mistério de um assassinato na novela – quem matou Salomão Ayala? – ou uma tunda bem dada numa vilã em horário nobre, de tempos em tempos, alguém é obrigado a engolir a contragosto uma estranha iguaria. Brizola engoliu um sapo barbudo. Zagalo queria ser engolido. Agora, Pedro Simon deveria engolir e digerir palavras. Qual será o próximo condimento na bandeja dessa próspera pizzaria? Collor também chamou o senador de parlapatão – obrigando a maioria dos brasileiros a recorrer ao Aurélio –, o Senado também é cultura e o senador é um homem culto. O vocabulário dos brasileiros ficou enriquecido. Confesso: pensei que parlapatão fosse um enorme pato falante.
No embate Collor estava defendendo, fervorosamente, o presidente Sarney, antigo desafeto de 89. Há alguns dias num palanque no Nordeste havia recebido afagos e elogios de Lula, antigo desafeto de 89. Vinte anos são suficientes para sacramentar uma amizade? Os inimigos de ontem são amigos e confidentes de hoje. Como será o amanhã? Responda quem puder. Mas eu acho que está mais para Amigos para sempre.
Esses episódios fazem da política a mesmice. Num país em que um Duque serve uma pizza republicana, ficamos com sérias dúvidas se no futuro alguma coisa poderá ser diferente.
Enfim, eu só teria uma dúvida: Collor conseguiu comprar, ou não, um aparelho de som igual ao de Lula?
Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Que mal lhe pergunte

 

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