Não foi a força centrífuga que me lançou à greve

Vinte e quatro de setembro me soou estranho. É o dia do meu aniversário, desde que nasci. E lá se vão 47 anos (corpinho de 46). Meu primeiro “presente” recebi na véspera: aprovação de greve na base Santa Maria, quase por unanimidade entre os mais de cem presentes na assembléia.

Setembro estava salvo enfim. Lembro de uma canção do Beto Guedes que diz algo assim: Quando entrar setembro e a boa greve andar nos bancos… Não tenho certeza da letra, mas a idade também não ajuda (apesar do corpinho, 47 são, sei lá, mais que 18?). Setembros sem greve me causam problemas salariais.

O primeiro dia transcorreu exatamente como transcorre um primeiro dia de greve, exceto pelos abraços pelo nascimento, digo, pela resistência, pela teimosia, pela existência. Pensei, logo existo. Descartei. Alguém já disse isso.

O interessante do dia, na verdade, ocorreu no seu final. Encerradas as atividades de greve (é, greve tem atividade embora alguns iluminados que se encerram em gabinetes apelegados ou acarpetados nos taxem de vagabundos) fomos a um café tradicional das quintas-feiras, do qual participamos normalmente eu e o Athos como representantes dos bancários e mais alguns outros senhores ligados à arte da escrita. Acompanhou-nos o Rejo, da CEF. E foi de um diálogo do Rejo e do prof. Aguinaldo, físico, que tive a notícia que praticamente liquidou com meu aniversário.

A pior notícia desde que o Plutão foi rebaixado da condição de planeta do sistema solar. Notícia que ainda não digeri direito. Agora esses senhores me afirmam que não existe mais, ou que nunca existiu a força centrífuga. Querem acabar comigo eu diria se fosse o Rei. Não! A força centrífuga não, ainda se fosse a outra…

Confesso que fiquei estupidificado. Não sei se tal palavra existe, mas não estou a fim de confirmar no dicionário. Se não é neologismo… Ah, por que razão fiquei estupidificado? Por causa desse verbo: existir. A que será que se destina? Já perguntou Caetano. Bem talvez o correto seja estupefato. Enfim existir é relativo. Entendem? Nem eu.

O que eu quero dizer é que acabei não entendendo nada. Mesmo com a repetição da explicação. Claro que me conformei, pois na manhã deste mesmo dia, meu aniversário, já vivenciara o que é não entender bulhufas. Ou entender nada. O representante de um grande banco público de grandes lucros também ficou assim, sem entender, ao nos ver ali em frente à sede de seu labor, em greve. Ele repetia “não acredito… não é possível”. O que é totalmente compreensível, afinal, tudo só é possível ao que crê, portanto ele não acreditando nada poderia ser possível… Bem, ele não acreditou no que viu e eu não acreditei no que ouvi. A força centrífuga, para mim existe. E a greve também.

E eu me perdôo por não entender uma vez que nunca serei um alto executivo apesar dos meus 179 cm. No máximo um caixa-executivo alto. Segundo o mesmo representante não estou entre aqueles que ele considera dos melhores. E me perdôo mais ainda porque aprendi, bem antes deste aniversário, que em um colegiado não há a figura do presidente, embora após a explicação do Cesar sobre tal forma de gestão, ele ainda fosse chamado de presidente (ainda se fosse imperador, vá lá). A César o que é de César.

Eu compreendo o fato de alguém não entender isso, mesmo sem me colocar no lugar dele, devido “as nossas diferenças que fazem a diferença” (vide PLR bônus, etc…) Compreendo, ainda que estupidificado ou estupefato (o fato de não consultar o Aurélio pode me derrubar ainda) que se usasse contra a greve argumentos como o Banco não poder oferecer mais do que a Fenaban propusesse de aumento (o que acabou sendo desmentido após a negociação). Não haveria de ser por falta de dinheiro, porém. Quatro bilhões por semestre, também é um lucro que não dá pra entender em uma empresa com obrigações sociais e responsabilidades sócio-ambientais.

Apesar da minha ignorância, Feliz Aniversário para mim. Obrigado.

Raul Giovani Cezar Maxwell, bancário

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