Companheiro Judas

Uma foto em que aparecem no mesmo palanque Lula, Sarney e Collor sorridentes, faceiros e como íntimos amigos, nos faz pensar com os olhos no bojo da cuia de chimarrão e um dedilhar de milonga missioneira no aparelho de som.
Há poucos anos seria impensável um palanque com aquela formação. Uma heresia política, uma afronta a ideologia e a trajetória de cada um dos três. Se, em um passado não tão remoto, houvesse o encontro, os sorrisos seriam amarelos e todos estariam desconfortáveis no improvisado “altar”. A foto sinalizava o que estava por vir. Um acordão entre PT e PMDB com vistas às eleições de 2010.

Acordos fazem parte do tabuleiro político de poder. Mas existem acordos e acordos. Nesse caso, todos se transmutam em companheiros com um glorioso passado de lutas. Tudo parece fantasioso, falso e frágil com um único objetivo: manter o statu quo. Para exemplificar, nesse jogo de faz de conta, o presidente da Fiesp e um evasivo ex-craque de futebol tornaram-se eméritos socialistas.

Com esse acordão de cúpula para a candidatura a presidente do Brasil, em alguns estados a coisa fica encruada. No Rio Grande do Sul, em que palanque o Lula subirá? A coalizão terá o palanque de Tarso e o de Rigotto/Fogaça. Ou, quem sabe até lá, os gaúchos também terão uma chapa única apoiada por Lula?
Para justificar essas alianças de ocasião o presidente Lula afirmou que “se Jesus Cristo viesse para cá e Judas tivesse a votação em um partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão”. Ainda bem que Hitler está mortinho da silva, pois se ele voltar e tiver votos em um partido qualquer… (sic). Nossa! Nem é bom pensar, mas o fato é que em política nada mais me surpreende. Se alguém disser que Ronaldo Caiado virou socialista, eu acredito.
Nessa coalizão a qualquer custo – lembremos que Judas se vendeu por 30 moedas – poderá haver uma traição. Se Pedro, que fazia parte do campo majoritário de Cristo, o negou três vezes, fica explícito que os cuidados devem ser redobrados ao se fazer acordos com os “Judas” de plantão. Um vice escolhido “a lo loco” poderá ser uma pedra no sapato por quatro anos. A Yeda que o diga.

Enfim, um velho vizinho maragato dizia do alto de sua sabedoria campeira “diga-me com quem andas e eu direi quem és”, mas em se tratando de acordos políticos e pragmatismo eleitoral o ditado não vale. Ou vale?

Athos Miralha da Cunha, bancário

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