Clube do Povo
Nesse memorável 04.04.2009 somos embevecidos pelo sentimento de uma centenária paixão. É impossível ficarmos alheios aos versos do Hino do Internacional – Colorado das glórias, orgulho do Brasil – e vestirmos a camiseta vermelha e sairmos por aí.
Transbordamos toda nossa alegria porque não temos mais espaço para as emoções que estão por vir. É algo que não apalpamos, mas sentimos e vemos como uma utopia possível e glamorosa. Esse abril de 2009 não tem vocação para ser despedaçado. E, sim, guardado nos corações como o mais importante abril dos últimos cem outonos.
Se olharmos, sensatamente, para o início do século passado, não acreditamos que um clube de futebol fundado por três jovens – os Poppe – se tornaria tão grande e um dos mais amados do Brasil. O Inter foi concebido para ser o Clube do Povo. Os colorados com uma visão socialista de mundo acreditam que o Inter foi fundado sob a égide da Segunda Internacional. Algum fundamento deve ter, pois a cor vermelha e o nome Internacional simbolizam a revolução, a mudança e a rebeldia. Vibra e pulsa como os inquietos e perseverantes. Nesse bojo de ideias e ideais, não há lugar para a discriminação e o colorado dos pampas nasce com essa filosofia: um clube que negros e pobres teriam acesso e que o preconceito seria jogado para escanteio.
Mas a razão também deve estar presente e homenagearmos à memória de todos aqueles colorados que, em algum momento desses cem anos, torceram e gritaram por uma conquista. Temos uma legião de saudosos torcedores sorridentes em alguma dimensão desse vasto universo. Nesse sentido, somos privilegiados. Estamos vivendo intensamente esse ano repleto de comemorações e que tem seu auge nesse primeiro sábado de abril.
Nós levaremos essa data nas mentes para o resto de nossas vidas. Os colorados desse centenário não são simples torcedores escarrapachados em uma poltrona na frente de uma televisão. São apaixonados, irreverentes e revolucionários porque o vermelho sintetiza a paixão que escancara portas e rasga horizontes. A camiseta alvirrubra está impregnada de luta, sangue e vinho para celebrar a saúde. Esse encarnado incandescente traz o calor de corpos ardentes que se amam. O vermelho do Inter é como um bagual solto na pampa gaucha. É indomável e irrestrito. É um galope contra o vento deixando um rastro de poeira. O vermelho do Inter é como pás que fazem sulco na terra para semear a vida. Traz no seu âmago a liberdade e a democracia. Esse alvirrubro gaúcho é dialético, pois reúne maragatos e chimangos. Mas, também, é terno, porque não podemos perder a ternura. Não há preconceito nessa história colorada. É um revigorado e apaixonante senso de liberdade: vai potro sem dono, livre como eu.
Nesse centenário seremos, eternamente, vermelhos.
Athos Ronaldo Miralha da Cunha, bancário